Sempre que venho a Macapá faço uma pesquisa particular para ver a quantas andam a política no Estado. Converso com amigos, parentes, motoristas de taxi, atendentes de loja...
Faço a minha “quali” particular. Não tem valor científico, mas dá uma noção do “clima” da disputa.
As pessoas me diziam: o Capi não fez nada. Fez um governo corrupto. Perseguiu as pessoas. O Capi acabou...
Lembro que em 2002 não conseguimos colocar as principais obras do Capi na campanha porque o tempo era muito curto e a quantidade de obras muito grande.
Como se esquece um governo como o do Capi comentado positivamente em vários países? E a luta dele contra a corrupção?
Parecia lavagem cerebral. E era...
Jornais, rádios e TVs nos últimos oito anos recebiam generosas mensalidades para blindar os atuais governantes e desqualificar os opositores. O predileto era o Capi.
Foram oito longos anos de degredo político como definiu o professor Fabio Castro em seu O final do segundo exílio do Capí. Durante oito anos, Capi sofreu um linchamento público, na base do se não tiver defeito a gente inventa.
“Se chove grosso a culpa é do Capi. Se não chove também...” minimizava o Capi na campanha.
Aprendi muito com o Capi.
Acompanhei a fase do Pink, um barzinho na General Rondon, em frente a caixa d’água que virou point (tenho uma estória hilária de uma noite no Pink. Vou contar em breve) e a dos carrinhos de cachorro quente após a saída do Capi da Secretaria de Agricultura.
Em 87 voltei pra Belém e perdemos o contato.
Em julho de 2010 aceitei o convite da Luciana. Larguei tudo em Belém e vim encarar esse desafio quase impossível de ser vencido.
Além de ajudar a resgatar uma história de luta de um grande amigo, de um grande homem vim também pelo desafio. Sou movido a desafios.
Vim para trabalhar exclusivamente na campanha do Capi. O marketing do Camilo foi feito pela Vanguarda, do publicitário Chiquinho Cavalcante, uma conceituada agencia de publicidade paraense com um currículo muito bem sucedido em campanhas eleitorais. Em comum a coordenação da Luciana Capiberibe.
Quando a campanha começou o quadro era esse: o ex governador Waldez Góes (PDT) e o senador Gilvan Borges (PMDB) disparados na frente. O Capi vinha em terceiro, cerca de 18 pontos atrás do segundo colocado; o senador Papaléo (PSDB) estava em quarto, Randolfe (PSOL) em quinto e um desconhecido professor Marcos (PT) em sexto.
Na nossa “quali”, Waldez aparecia como um Governo muito bem avaliado e era considerado um candidato imbatível. A maioria das pessoas não sabia que o Capi era candidato e os que sabiam tinham dúvidas se votar nele valia ou não. O Randolfe vinha crescendo conquistando o segundo voto dos outros candidatos. Como a disputa, até então seria pela segunda vaga, a ascensão do Randolfe começou a preocupar.
Nota: o Capi nunca creditou nesse quadro. Achava que com a campanha essa configuração mudaria.
Para o Governo, o sentimento era que, apesar do Lucas estar em primeiro, a tradição da máquina pesaria e muitas pessoas achavam que seria o governador Pedro Paulo (PP) e mais um. E esta segunda vaga ficaria entre Lucas Barreto (PTB) e Jorge Amanajás (PSDB). O Camilo era considerado uma piada de mau gosto, um projeto familiar que atrapalharia a eleição do Capi condenando-o a uma melancólica aposentadoria.
Para piorar a campanha não tinha dinheiro e o PSB estava rachado, uma parte se bandeou para a campanha do Lucas embora afirmasse que continuava com o Capi. Tínhamos uma enorme dificuldade de conseguir apoios para gravar. Os poucos que conseguíamos tínhamos que dividir com o Camilo. Os eventos atraiam poucas pessoas, sem nomes de expressão. Na rua se dependesse de uma bandeira amarela pra fazer um chá, o paciente morreria.
Estabeleceu-se uma competição salutar entre a equipe do Camilo e a do Capi,
Apartir do terceiro programa a Luciana assumiu a direção, acumulando com dezenas de outras funções na campanha, tendo o Murilo como fiel escudeiro e grata surpresa. Murilo revelou-se um excelente diretor de criação e foi o responsável entre tantas coisas, por resgatar a atuação do Camilo na Assembléia Legislativa, onde a comparação com o adversário era amplamente favorável.
Como eu estava sobrecarregado com a campanha do Capi participei da campanha do Camilo no primeiro turno apenas como palpiteiro. A base da equipe do Camilo era formada pelo professor Fabio Castro, o publicitário Vicente Cecim e o jornalista Sérgio Santos na redação, roteirização dos conteúdos e nas estratégias de marketing, comandados pelo Chico Cavalcante.
Mas quem mandava mesmo na campanha era a nossa pesquisa coordenada pelo Ronaldo. Na dúvida quem decidia era a quali. Uma campanha com uma boa pesquisa elimina os donos da verdade. E a verdade passa a ser a do eleitor em potencial ou como queiram, do público alvo. E foi assim na nossa campanha.
A Luciana construiu o programa em torno do candidato. Melhorou muito, deu certo e o Camilo foi para o segundo turno.
O desempenho do Camilo e a configuração que se armou no debate da TV Amapá também foram decisivos. No lugar de responder as demandas da campanha, Lucas limitou-se a responder aos militantes do PSB do Twitter e juntou-se aos demais candidatos que atacavam a familia Capiberibe. Postura inadmissível para quem liderava as pesquisas. O eleitor não entendeu nada e o Camilo, muito bem preparado ganhou o debate. O Lucas começou a perder a eleição a partir dai.
Disciplina e paciência, estes foram os ingredientes da campanha do Capi. Usamos uma ferramenta já consagrada em outras campanhas, mas nunca utilizada por um oposicionista: o Capi que fez!
Foi um sucesso! Virou o bordão da hora e da vez. Ficou o tempo exato para cumprir o seu papel de resgatar as obras do Capi, esvaziar o Governo do Waldez e comparar o trabalho do Capi com o do Gilvan.
Deu certo! Waldez começou a cair. E o Gilvan também.
O Capi fez uma campanha limpa. Uma campanha exemplar de reconstrução de imagem. Em nenhum momento o programa do Capi pronunciou a palavra Sarney, um dos algozes e mentor intelectual do linchamento ao qual o Capi foi submetido.
Nem a Operação Mãos Limpas, um prato cheio para um desabafo de tudo o que ele passou nos últimos oito anos foi o suficiente para tirar o Capi do foco. Este dever de casa ficou para o programa do Camilo e, uma ou outra intervenção do professor Marcos, companheiro de chapa do Capi, que como um bom petista que é, não deixou passar íncolume os envolvidos no mar de corrupção.
Nem quando Lula quase desmorona a nossa campanha ao fazer gravações personalizadas para os nossos adversários demolindo as chances do professor Marcos, tirou a serenidade do semblante do nosso Senador.
Mas ao que parece a aparição de Lula teve efeitos colaterais: Waldez e Gilvan caíram exatos 13 pontos cada um, segundo o IBOPE e continuaram caindo depois.
Após a Operação Mãos Limpas o candidato Randolfe Rodrigues passou a ser o primeiro símbolo da mudança. O outro a gente conheceria no segundo turno.
Com o professor Marcos fora do jogo, o casamento do Capi com o Randolfe sacramentado pelo povo se consolidou. As estratégias para separar os dois eram muito arriscadas.
Randolfe passou a ser a segunda opção de todos os outros candidatos, incluindo ai os eleitores do Capi e os anti-Capi.
Randolfe virou uma unanimidade. A associação da imagem dele com o Capi e com o Camilo no inconsciente popular nos beneficiava, mas era uma saia justíssima. Nós tínhamos um candidato ao Senado do PT que era companheiro de chapa do Capi e seria para ele que os votos do Capi deveriam ser transferido. Intensificamos a associação do Capi ao professor Marcos com a entrada da Janete e, agora com pedido explicito de votos de todos os ícones do PSB. Sem sucesso!
Se não tínhamos o Lula, tínhamos a Janete, disparada a candidata à Federal mais popular.
Incansável, Janete passou a ser uma das atrações tanto da campanha do Capi como da do Camilo. A Janete tinha muitos votos a transferir. Deve ter perdido uns 20 mil no linchamento que sofreu nos três dias que antecederam as eleições. Mesmo assim foi a campeã de votos.
Quando o IBOPE revelou que o Capi estava em segundo lugar, o senador Gilvan Borges virou sua metralhadora giratória e iniciou uma operação para desconstruir o nosso candidato. Mas cometeu o erro de tentar esconder a autoria das baixarias.
Ao invés de responder, o programa do Capi começou a vacinar os ataques. Metade do programa defendia, a outra metade cumpria os deveres de casa determinados pela pesquisa.
Paciência e humildade foram a duas palavras que não saiam das nossas mentes.
O brilhante trabalho dos nossos assessores jurídicos, Sandra, Luciano e o Marcio, junto ao TRE encurralou o senador Gilvan.
Ele perdeu os dois últimos dias de inserções e o último programa. Além dos nossos espaços ganhamos o tempo dele para veicular nossos direitos de respostas e ao mesmo tempo carimbá-lo como autor das baixarias até então escondidas. Xeque- mate!
Durante a campanha, o Capi e eu trocamos muitas idéias, conversamos muito. Rimos muito quando lembramos da nossa cumplicidade na propaganda do Azevedo em 85. Naquela época valia tudo, não havia direito de resposta e a campanha durava três meses. Os programas eram em formato de telejornais, não haviam muitas propostas e as "denuncias" eram a atração.
Gravei quilômetros de entrevistas com o Capi e as utilizava para formatar as peças.
O programa era a essência do Capi.
Colecionei estórias hilárias, passagens emocionantes da vida dele. Algumas, como a do médico que recebeu a visita do Governador Capi de madrugada no Pronto Socorro atendendo a reclamação de um paciente, talvez eu publique aqui, outras devem fazer parte da biografia que ele está escrevendo.
Nesta campanha convivi com um Capi diferente: maduro, comedido, consciente dos erros e dos acertos que cometeu. Estava sereno e com uma aura que só os grandes homens possuem.
Uma vez ele me falou:
- Walter, o Camilo vai ser um governador melhor do que eu. Ele tem a experiência parlamentar, que ensina a argumentar, a negociar. Quando eu assumi a Prefeitura e o Governo eu tinha uma vontade enorme de mudar a maneira com que as pessoas lidavam com o dinheiro público e dispunham do patrimônio público. A falta de experiência parlamentar influenciou. Se eu assumisse um governo hoje, certamente não cometeria os mesmos erros de lutar contra varias frentes ao mesmo tempo. Eu combateria a corrupção com a mesma intensidade, mas faria de uma forma menos traumática.
Na campanha não foi preciso construir um novo Capi. Bastou mostrar o verdadeiro para que a paixão do povo por ele voltasse.
O amor desse povo pelo Capi é impressionante. É um amor correspondido. E foi esse amor que fez que as mágoas do passado ficassem no passado. Esse amor superou todas as dificuldades da campanha.
O Capi ainda tem uma batalha a travar no Supremo, mas a maior delas ele já venceu: o povo do Amapá fez justiça. Reconheceu o grande prefeito, governador e o senador que o Capi foi e agora o quer de volta no Senado.
E prepare-se. O Capi nasceu para revolucionar.
Dizer que no Senado ele vai fazer muito mais não é um simples bordão de campanha.
Ele vai fazer mesmo! Assim como fez a Lei da Transparência.
E num futuro quando perguntarem:
E a Lei do Imposto as Claras e do Percentual Obrigatório do Orçamento para a Segurança Pública?
O Amapá gritará orgulhoso:
- FOI O CAPI QUE FEZ!
Agora vou escrever sobre o inacreditável segundo turno: o nível da campanha foi pra sargeta e a ética pro lixo. Me senti no Maranhão.
Com fotos de Márcia Carmo
3 comentários:
Parabéns Junior, a matéria está belíssima! Parabéns pela sua criatividade, perseverança, competência, enfim, por esse espírito vitorioso que existe em você!
Marilan Carmo
Belissima é pouco. Uma verdadeira aula de historia. Parabens!!
Nita
Belissima é pouco. Uma verdadeira aula de historia. Parabens!!
Nita
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