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sexta-feira, 31 de julho de 2009

Jornalismo se aprende na escola? Há controvérsias.



Linomar Bahia *

Na mídia, houve quem perguntasse se para escrever livros haveria necessidade de diploma de escritor. Em uma das jóias poéticas da música popular brasileira, Noel Rosa cantou que “fazer samba não se aprende na escola”. Exemplos históricos justificam que atividades intelectuais, como o jornalismo, também. São faculdades que nascem com as pessoas, apenas aperfeiçoando na vida as aptidões naturais.

Controvérsias à parte, certamente prevalece o entendimento de que quaisquer funções modernas, e não apenas o jornalismo, requerem bom nível de escolaridade e cultura, que se espera da formação acadêmica, embora para qualquer uma devesse ser aferida por alguma forma de avaliação, tal como o exame OAB para habilitação de advogados. Para o jornalismo, pelo menos um estágio probatório em redações.

Existem profissões para as quais são indispensáveis o aprendizado correspondente e as técnicas peculiares. Médicos precisam de aulas de anatomia e funcionamento do corpo humano. Engenheiros têm que estudar resistência de materiais. Operadores do direito da justiça, aprendem a lidar com códigos e a interpretar leis. Mas, no jornalismo, chegam, o efetivo exercício profissional apenas aqueles nascidos para isso.

Fosse o diploma o exclusivo requisito para o jornalista, a profissão e a sociedade teriam sido privados de profissionais que, para ficar apenas nos mortos, serão eternas referências na profissão. Quando muito, como a minha geração dos anos 40 a 60, faziam direito ou letras. A maioria, contudo, nem chegara à conclusão do secundário, hoje segundo grau. Foram os auto-didatas, reconhecidos pela própria lei do diploma.

Nessa galeria imortal está Gabriel Garcia Marques que, embora laureado escritor, sempre se disse jornalista e exaltou o jornalismo como a melhor profissão do mundo. O jornalismo brasileiro não teria expoentes do nível de David Nasser, Carlos Castelo Branco, Carlos Lacerda ou Samuel Wainer. No Pará, não teria havido o pioneirismo de Felipe Patroni editando “O Paraense”, nem Santana Marques, De Campos Ribeiro, Edgar Proença, Paulo Maranhão, Ossian Brito, Frederico Barata, Alfredo Sade, Mário Couto, Cláudio Leal, ou, ainda, Hélio Gueiros e Newton Miranda e Rômulo Maiorana.

O essencial dessa matéria, todavia, nunca ou poucas vezes foi trazido ao debate – a baixa qualidade dos cursos. Tem decorrido, principalmente, da presença de raros profissionais de verdade nas salas de aulas de jornalismo no país. Predomina um academicismo, onde teóricos e imberbes profissionais cumprem currículos por isso moldados às limitações objetivas e práticas dos professores.

O fim dessa espécie de “reserva de mercado” abrirá as redações aos que, efetivamente, embora formados em outras áreas, ou em nenhuma, encarnam a essência da profissão – saber escrever, atributo cada vez mais raros, como demonstram no ENEM e vestibulares respostas que seriam cômicas não fossem trágicas. Enquanto isso, há engenheiros, médicos, sindicalistas e, mesmo, gente simples, que escrevem corretos artigos, comentários e cartas cada vez mais atraentes nos jornais.

Haverá perdedores. A começar por aqueles que se têm locupletado da prodigalidade governamental na proliferação de cursos duvidosos. Perderão aqueles professores que usam pesquisas de alunos junto a profissionais, mesmo sem diplomas, para tentarem aprender o jornalismo que nunca, ou só episodicamente, praticaram. Mas estará preservada a liberdade de expressão, praticada por jornalistas com ou sem diplomas, enquanto haverá diplomados que, não obstante, jamais serão jornalistas


* Linomar Bahia é jornalista e consultor de comunicação

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