Poucas vezes um artigo sobre a imprensa produziu tanta discussão entre os próprios jornalistas como o texto “Como salvar os jornais (e o jornalismo)”, descrito por Walter Isaacson, ex-editor da revista Time, a semanal de maior circulação no planeta ereferência para tudo o que se faz no mundo inteiro, inclusive no Brasil.
Isaacson reúne dois dados contraditórios. De um lado, diz, “os jornais tem mais leitores do que nunca. O seu conteúdo, assim como o das revistas de notícias e de outros produtores do jornalismo redacional, é mais popular do que jamais foi – até mesmo (na verdade especialmente) entre o público jovem.”
Por outro lado, nos últimos meses “a crise no jornalismo atingiu proporções de derretimento. Agora é possível contemplar num futuro próximo uma época em que algumas grandes cidades não terão mais seu próprio jornal e as revistas e redes de notíciaempregarão apenas um punhado de repórteres.”
A explicação de Isaacson é o modelo de negócio adotado pelas empresas de comunicação em função da internet: oferecer notícias de graça, em vez de cobrar por elas. “As organizações jornalísticas estão distribuindo alegremente suas notícias."
” Citando pesquisas americanas, ele diz que no ano passado ocorreu uma virada marcante: “as notícias gratuitas disponíveis na internet foram mais procuradas do que os jornais e revistas que publicavam o mesmo conteúdo. Quem pode se espantar com isso? Até eu deixei de assinar o New York Times porque se o jornal não acha justo cobrar pelo acesso ao seu conteúdo, eu me sentiria um tolo pagando por ele.”
A idéia sugere Isaacson, é a cobrar pela informação, criando um sistema de micro pagamentos pela internet. Com alguma liberdade, poderíamos definir o sistema como uma espécie de taxímetro, onde os leitores seriam chamados a pagar quantias modestas — ele fala em algo equivalente a 20 centavos por um artigo ou 1 real pela edição completa de um jornal em determinado dia — sempre que tiverem interesse.
Ele está certíssimo.
O problema é que a maioria dos veículos não decidiu oferecer notícia de graça, na internet, porque seus executivos queriam sentir-se “moderninhos.” Todos sabiam que iriam perder dinheiro com isso.
O que se considerava é que não havia outra saída para tentar manter audiência num ambiente que funciona pelas leis escancaradas da pirataria e do canibalismo, onde tudo se reproduz e nada se paga, sejam músicas, piadas, fotografias, pornografia ou jornalismo.
Não custa lembrar que uma das causas inconfessáveis do sucesso da internet residena imensa oferta desse trabalho não-pago.
A pergunta não é por que assinar a edição impressa de meu jornal preferido cessar seuconteúdo, de graça, no site do jornal, mas: se eu cobro pelo meu conteúdo na internet, que vai querer pagar por ele? Como impedir que seja pirateado por um concorrente site no interior do Paquistão e fora de qualquer ação judicial?
Essa é a primeira pergunta. Há outra, na nota que virá logo depois.
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