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segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Você pagaria para ler jornal na internet? (2)

Sou e sempre fui a favor de cobrar pelo conteúdo de um jornal ou revista — seja na internet, seja em papel.

Jornais gratuitos são uma ilusão, pois sempre haverá alguém pagando para que o leitor leia aquela notícia e não outra.

Se o consumidor compra a comida, paga pelo vestuário e compra o ingresso do filme preferido, por que não iria pagar pelo jornal que lê?

Mas isso nos leva a outra discussão: será que a crise financeira dos jornais nasceu com a internet? Será que todos os leitores estão satisfeitos com a mídia e só não pagam pelo que lêem na internet porque as empresas de jornalismo se esqueceram de mandar a conta?



Acredito que o leitor paga e sempre pagará pelo conteúdo de um jornal na internet quando estiver convencido de que esse gasto vale à pena. Essa discussão é anterior a crise atual dos jornais, que gerou a idéia de colocar uma espécie de taxímetro na internet, como sugere Walter Isaacson, ex-editor da Time americana, para quem as dificuldades de hoje tiveram início com a decisão de oferecer notícias de graça na rede. (Leia nota anterior).

Mas em 1995, quando muitas redações sequer haviam sido inteiramente informatizadas, assistia-se a um acelerado processo mundial de venda, compra e falência de jornais e revistas, motivado pela falta de público, pela falta de anúncios — ou pelas duas razões combinadas.

Num livro publicado na época, “Detonando a Notícia,” o jornalista James Fallows procurava tomar a temperatura das relações entre mídia e público nos Estados Unidos. Citando pesquisas diversas, dizia que os americanos “acreditam que a imprensa se tornou arrogante demais, cínica, voltada para escândalos e destrutiva.”

Fallows aponta para um problema no conteúdo e não na forma de venda. Descreve uma mídia fechada em si mesma, em suas metas de venda e de resultado final, sem disposição para discutir o sentido de seu trabalho.



Escreve que, diante de toda crítica, a resposta de repórteres e editores é dizer que suas publicações “apenas refletem o mundo como ele é. Criticar a cobertura de um veículo, dizem, é apenas ‘culpar o mensageiro’.” Outro argumento: “Diga que a cobertura é superficial ou sensacionalista e os repórteres irão responder que análises mais extensivas” acabariam aborrecendo um “público preguiçoso.”

Mais um argumento: se não exibirem fofocas de celebridades, nem apresentarem uma boa cobertura de assuntos policiais, irão perder público para a concorrência que fizer isso.

James Fallows admite que há “alguma verdade” nas queixas e explicações dos jornalistas.Mas sua visão é que, ao dar prioridade a escândalos, ao tratar a vida pública como um show e transformar assuntos sérios em variações de um programa de entretenimento, a mídia entrou numa competição que só pode perder.

Há uma década e meia ele dizia que a “grande verdade é que a mídia se afastou de seus“ valores principais” e está cada vez mais longe da “essência do verdadeiro jornalismo, que é a busca de informações de utilidade para o público.”


Acho que a vida numa sociedade de massa não se alimenta apenas de notícias de interesse público. Informações que podem auxiliar na vida privada são importantes, da mesma forma que aquele tipo de orientação definido como auto-ajuda.

Num mundo de cidadãos atomizados, onde a vida social é marcada pelo declínio do espaço público, outras realidades se impõem.
Mas eu acho que antes de ligar o taxímetro na internet, jornais e revistas devem reforçar seu conteúdo — caso contrário, não haverá razão para o leitor colocar a mão no bolso.

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