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quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Olha Macapá aí geeeeente!


Até 1982, só os estudiosos e historiadores conheciam a data da fundação de Macapá. Não havia comemoração. Toda a pompa e circunstancia eram reservadas para o dia 13 de setembro, data da criação do Território do Amapá e seu desmembramento do Estado do Pará.
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Em 1983, com a aceleração da campanha para a transformação do Amapá em estado, o Governo do Amapá resolveu dar mais ênfase ao 4 de fevereiro, dia no aniversario da capital, já pensando em substituir o 13 de setembro.
Foram convocados o jornalista Paulo Oliveira, o publicitário Carlos Viana, o poeta Fernando Canto, o arquiteto Chikahito Fugishima e eu para criarmos uma peça publicitária que marcasse a data. Num primoroso texto do Fernando Canto, um caboclo amapaense contava a historia de Macapá como se estivesse conversando com um amigo.
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Foi aí que eu soube que o primeiro nome de Macapá foi Adelantado de Nueva Andaluzia, batizada por Francisco Orellana, navegador espanhol que passou por lá; que Tucujus era o nome da tribo que habitava essa região, onde surgiu a capital e que Macapaba, estância de bacabas, na língua indígena, deu origem ao nome Macapá.
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O texto ainda falava do Bola Sete, figura antológica da cidade, Julião Ramos, líder negro do bairro do Laguinho, do primeiro ônibus, do cliper do Mercado Central, do Marabaixo, um dos maiores patrimônios culturais do estado e outros ícones da terra. Foi ilustrado com fotos históricas.
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O cartaz se transformou num best sellers. A peça publicitária gerou vários sub produtos como folder, anuncio de jornal, comerciais de tv, folheto... E durante anos e em vários aniversários foram utilizados para homenagear a cidade. Foi uma grande homenagem pelos 225 anos de Macapá e a partir daí surgiram as primeiras programações em homenagem a cidade.
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Sempre que chega o aniversário da capital pipocam na mídia anúncios de jornais, spot de rádio, outdoors e comerciais de tv com lindas homenagens. Na maioria das vezes refletem apenas a paixão dos redatores, dos diretores de arte e de criação pela cidade e não o real sentimento do anunciante.
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Agora nos seus 250 anos, Macapá com certeza recebeu a maior homenagem da sua história. Macapaba: equinócio solar, viagens fantásticas ao meio do mundo foi o tema de um belíssimo e irretocável desfile da Beija-flor, no dia do aniversário da cidade. De quebra, a escola carioca ainda foi a campeã do carnaval. Macapá é citada em todas as midias.
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O Amapá é comentado no mundo inteiro.

Assisti ao desfile no quarto de um hotel em Salinas, onde estava a trabalho. Senti falta de muitos ícones da cidade. Mas Macapá é assim: tem tanta história, estórias e riquezas culturais que juntas não cabem em um enredo só.
Na apuração, cercado por técnicos de vários estados o assunto foi um só: Macapá.

Estou recebendo felicitações de vários lugares do Brasil pela conquista do título. E como diria o Lula, aquele que quer abafar o escândalo dos cartões corporativos distribuindo cargos para o PMDB, nunca na historia do Amapá houve uma divulgação tão eficiente do estado como esta.
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Um golpe de mestre, uma grande jogada de marketing.
A controvérsia fica por conta dos custos do investimento. Em 1998 um outro enredo campeão da Beija-flor, Pará – O Mundo Místico Dos Caruanas Nas Águas do Patu-anu, sobre a ilha do Marajó custou ao Governo do Pará, 300 mil reais. Teve a mesma repecussão que a homenagem à Macapá que teria custado aos cofres públicos 8 milhões de reais. O governo do Pará não bancou a ida de ninguém ao Rio de Janeiro e só compareceu à Sapucaí no desfile das campeãs para prestigiar a festa do título.

Mas em termos de divulgação não há o que discutir. Macapá ganhou o mundo. Muita gente que se emocionou com o enredo da Beija-flor vai querer conhecer o Amapá.
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Só que em Macapá a ópera é outra. O turista não encontrará aquele raro Beija-flor cantado e sambado na avenida, a não ser que vá à Serra do Navio, a 160 quilômetros da cidade homenageada em uma estrada terrível e tenha muita sorte de encontrar um brilho-de-fogo por lá. Eu estive várias vezes em Serra do Navio e nunca encontrei um.

Para ver a Pororoca, o encontro das águas do rio Negro com o Solimões, como descreveu um repórter da TV Globo, terá que se deslocar por uma estrada miserável até a localidade de Cotias, sem infraestrtutura hoteleira e de lá até a foz do rio Araguari, onde a infra-estrutura é ainda mais mínima e ver o espetáculo proporcionado pelo encontro do rio com o Oceano Atlântico.
As demais atrações podem ser vistas na capital mesmo.

Já nesta quinta feira, como uma cinderela depois da meia noite, Macapá volta a conviver, não com beija-flores, mas com os mosquitos da dengue, não com a passarela do samba, mas com ruas esburacadas. No lugar da gentileza de um porta-estandarte, que trata a porta-bandeira como uma rainha, encontrará um péssimo atendimento da saúde, onde o paciente é tratado com o desprezo reservado àquelas escolas que caem para o grupo de acesso. No lugar de um samba-enredo nota 10 conviverá com o samba do crioulo doido de um trânsito caótico e assassino. Harmonia mesmo, só na conivência entre os poderes. O ruflar dos tambores, o pinicar dos tamborins darão lugar aos ruídos dos tiros que matam em uma cidade dominada pela violência.
Nesta quinta feira, Macapá volta a conviver com o enredo que já conhece: A Macapaba da corrupção desenfreada e impune.

O repórter Tino Marcos da Rede Globo, em matéria no Jornal Nacional sobre a campeã do carnaval carioca afirmou:
- A Beija-Flor conseguiu transformar Macapá em uma cidade bastante atrativa.

E eu pergunto: o Governo do Amapá e a Prefeitura de Macapá, que investiram milhões no desfile da Beija-flor também conseguirão?
Até agora...

Brindemos a vitória da Macapaba da Beija-flor.
Já a Macapá real não tem nada a comemorar.
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10 comentários:

Anônimo disse...

Pororoca : encontro das aguas do Negro com o Solimões, é???? Bom esse repórter da Globo , hein mano???
Queria ter visto , teve um dia que teve uma matéria num desses jornais que se passava em Ananindeua e a mulher se enrolou toda pra pronunciar ,foi tragicomico.
"O Brasil não conhece o Brasil , O Brasil SOS o Brasil" já cantava Elis e a gente ainda acreditava.
Um abração
Tadeu

Walter Junior do Carmo disse...

O Carlos Nascimento, este mesmo do SBT, quando era repórter da Globo veio cobrir o Círio de Nazaré e apelidou a grande romaria de "a maior festa do nordeste".Pra essas sumidades só o sul-sudeste é Brasil. O resto é nordeste. rsrs

Anônimo disse...

Uma vez no Rio quase apanhei num boteco no Rio porque batí boca com uns intelectuais cariocas confirmando que Belém fica mais perto do Rio do que de Manaus , "us cara" achavam que era do lado "é só subir um pedacinho de Rio" e outra vez tb perdí a voz tentando explicar que o Norte e Nordeste são geograficamente (clima , vegetação etc) dois planetas diferentes.Me emputecí nas duas vezes ouvindo a mesma ignorância: " De Minas pra cima é tudo a mesma coisa"
Um abraço
Tadeu

Walter Junior do Carmo disse...

Seguindo a mesma linha do preconceito carioca, dizem que no Rio de Janeiro só tem prostituta, homossexual e jogador de futebol e que os intelectuais de lá são pernas-de-pau. hehehe

Mari disse...

Ei Walter! Cadê o Ivan (Revelações de minh'alma?

Walter, visite o meu blog e veja o que fiz com a imagem que aqui me ofereceste, rsrsrs

Bjs querido!

Anônimo disse...

Isso Waltones ,
Minha mãe , minhas irmãs , minha sogra , sobrinhas batem um bolão.
rsrsrsrsrsrsrs
Tadeu

Anônimo disse...

Walter,

Muito bom o seu comentário. Parabéns. Como és da terra, soubestes, melhor do que ninguém, fazer a comparação e mostrar bem a diferença entre o enredo e a realidade. Estive em Macapá no mês passado e tive essa sensação que você tão bem descreve. Com exceção do Forte São José: muito bonito e que me impressionou muito.
Assisti ao desfile. A beija-flor empolgou e mereceu, mais uma vez, o título. Não sei quanto foi gasto pelo governo e prefeitura.
Se ficar só na festa, o investimento vira despesa, ou coisas do gênero, como: disperdício do dinheiro público, inversão de prioridade na aplicação dos recursos.
Uma coisa é certa: Macapá ganhou o mundo com o carnaval da Beija-Flor. Agora, é preciso ver como o mundo vai ganhar Macapá.
Papel do poder público: nem tudo pode ser, sempre, só festa.

Um forte abraço,

Orly Bezerra

Walter Junior do Carmo disse...

Tadeu, você também esta batendo um bolão. rsrs

Walter Junior do Carmo disse...

Na mosca Orly, você que participou de todo o processo do título da Beija-flor em 98, incluindo a palavra Pará no enredo: Pará – O Mundo Místico Dos Caruanas Nas Águas do Patu-anu e outros retoques na letra do samba enredo, sabe muito bem do que está falando.

Anônimo disse...

Querido Walter,

Também gostei muito do seu post. Pelo que soube, a população de Macapá gostou do título ganho com a história da fictícia Macapaba, mas não está nem um pouco contente com a situação precária da real Macapá. Acredito que desta vez os marqueteiros do governo terão dificuldade de utilizar esse evento alegre para apagar o descaso com a cidade.
Beijo e saúde,

Arti