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domingo, 24 de junho de 2007

Irrelevâncias


Os escândalos e pseudo-escândalos se sucedem e não se sabe mais distinguir os que merecem indignação nova dos que só vêm para abafar o anterior.
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A própria indignação acumulada acaba tendo efeito anestesiante - o que mais há para sentir e dizer, depois da conclusão de que todo mundo é corrupto fora o Jefferson Péres?
O resultado previsível disso é a total desmoralização da política e dos políticos, e portanto da democracia, no Brasil. Mas há outro resultado possível desse desencanto, não sei se melhor ou pior.

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Como, pelo que ouço e leio, a economia brasileira vai melhor do que jamais foi nesses últimos 10 anos e não parece ser afetada por grampos, denúncias, revelações, CPIs, adultérios, bobagens ditas pelo Lula ou na sua presença etc., consagra-se entre nós a tese da irrelevância da política.
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Como os banqueiros estão contentes e o povão reelegeria o Lula, seus improvisos e seus parentes num minuto, resta à política a fofoca e o concurso de oratória e à oposição a tênue esperança de um escândalo tão escandaloso que anule a anestesia.
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Devemos relaxar e gozar, já que uma democracia inconseqüente é melhor do que democracia nenhuma, ou lamentar termos chegado a tal desconexão entre realidade econômica e noticiário, que a própria corrupção se tornou irrelevante?
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Não olhem para mim, eu não sei a resposta. Prefiro uma democracia que funcione, mas isso é quase dizer que prefiro um país em crise econômica e institucional a cada nova ação da Polícia Federal.
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Luis Fernando Veríssimo

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